quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sobre Centauros, Grifos e Salamandras

:. Centauros

A origem dos Centauros está ligada ao mito de Ixião, habitante da Tessália, que matara a sangue frio o próprio sogro. Perseguido pelos habitantes do lugar, Ixião fugiu, percorrendo vários lugares da Grécia. Todas às vezes que era descoberto, era obrigado a fugir do lugar onde se encontrava, sem jamais ter paz. Diante da infelicidade de Ixião, Zeus (Júpiter), o senhor dos deuses, apiedou-se dele, convidando-o para viver no Olimpo.

No Olimpo Ixião não se mostrou agradecido, pelo contrário, pérfido e traiçoeiro, apaixonou-se por Hera (Juno), a rainha dos deuses, esposa de Zeus. Não contente, tentou seduzir a fiel esposa do senhor do Olimpo, confessando-lhe o seu amor e desejo. Indignada, Hera contou ao marido a ousadia de Ixião.

Zeus não castigou o seu hóspede ingrato tão logo soube das suas intenções, pelo contrário, como muita calma, preparou-lhe um grande ardil. Num pedaço de nuvem, o senhor dos deuses confeccionou uma réplica de Hera. Deu-lhe movimentos e sopros de vida. Assim, ao ver a nuvem em forma da rainha do Olimpo sorrir-lhe insinuante, Ixião não pensou duas vezes, tomou-a nos braços e a possuiu arrebatadamente, com sôfrega paixão.

Do amor traiçoeiro e infame de Ixião com uma mulher feita de nuvem, nasceu o monstro Centauro, metade homem, metade cavalo. Após o ardil, Ixião foi atirado ao Tártaro, onde ouviu, por muitos séculos, os deuses rindo da sua infâmia amorosa. Do alto do Olimpo Néfele, a mulher de nuvem que tinha o rosto de Hera, desfez-se em pranto.

Centauro foi deixado sozinho no monte Pélion. Trazia em si o irracional e o racional, a razão e a consciência mescladas com a sua natureza bestial. Centauro trazia na sua cabeça de homem o pensamento, a inteligência humana, e no seu corpo animal o desejo, o impulso naturalmente eqüino. No monte Pélion uniu-se a uma égua, gerando uma criança, dando início aos Centauros.

Os antigos gostavam demais dos cavalos para julgar que a mistura de sua natureza com a do homem pudesse resultar em degradação, por isso o centauro é o único dos monstros mitológicos da Antiguidade que possui boas qualidades. Os centauros podiam andar em companhia dos homens, e no casamento de Pirítoo e Hipodamia estavam entre os convidados. Durante a festa, Eurítion, um centauro, estando embriagado com vinho, tentou violentar a noiva; os outros centauros seguiram o seu exemplo, e armou-se um medonho conflito em que diversos deles foram mortos. Essa foi a famosa Batalha dos Lápitas e Centauros, assunto de grande interesse dos escultores e poetas da Antiguidade.

Mas nem todos os centauros eram como os rudes convidados de Pirítoo. Quíron foi ensinado por Apolo e Diana, e alcançou renome por sua grande habilidade na caça, medicina, música, além da arte da profecia. Os mais distintos heróis da história da Grécia foram ses discípulos, entre els o menino Esculápio, que foi entregue aos seus cuidados por Apolo, seu pai. Quando o sábio voltou para casa carregando o menino, sua filha, Ocírroe, saiu para encontrá-lo, e assim que avistou a criança põs-se a falar do futuro dela, profetizando ( pois era uma profetisa) a glória que alcançaria. Quando Esculápio cresceu, tornou-se um médico afamado, e, numa certa ocasião, foi capaz até mesmo de trazer um morto de volta à vida. Plutão ressentiu-se com esse feito, e Júpiter, obedecendo a seu pedido, atingiu o médico atrevido com um raio, matando-o, mas depois de sua morte recebeu-o entre os deus.

Quíron foi o mais sábio e o mais justo de todos os centauros, e, quando morreu, Júpiter colocou-o no céu entre as estrelas, na forma da constelação de Sagitário.

:.Grifos
A figura do Grifo surgiu no Oriente Médio onde babilônios, assírios e persas representavam a criatura em pinturas e esculturas.
Como diversos animais fantásticos, incluindo centauros, sereias, fênix, entre outros, o Grifo simboliza um signo zodiacal, devido ao seu senso de justiça apurado, o fato de valorizar as artes e a inteligência, e o fato de dominar os céus e o ar, simboliza o signo de Libra, a chamada Balança.

O Grifo é um monstro com corpo de um leão, a cabeça e as asas de uma águia, e o dorso recoberto de penas. Tal como pássaros constrói seu ninho, mas, em vez de um ovo, punha ali uma ágata. Ele tem garras e presas tão grandes que o povo da Índia costumava usá-las para fazer copos. Construía seu ninho com o ouro que encontrava nas montanhas, razão pela qual esses ninhos eram muito visados pelos caçadores, de modo que tinha de se manter muito vigilante para proteger seus filhotes. Seu forte instinto dotava-o da capacidade de descobrir o exato local em que os tesouros estavam enterrados, e tudo faziam para manter saqueadores à distância. Os arispianos, entre os quais os Grifos floresceram, eram um povo da Cítia que tinha um único olho.

Milton usa os Grifos para uma comparação, no livro II de "Paraíso Perdido":
"Tal como um grifo através das matas
Em seu vôo, sobre os montes e as campinas,
Persegue o arispiano que, astucioso,
Roubou-lhe, apesar da vigilância,
O ouro que guardava."

:.Salamandras
São anfíbios reais aos quais a lenda e o folclore atribuíram o poder de viver no fogo e de extingui-lo. O mesmo nome foi dado aos elementais do fogo pelo médico e alquimista Paracelso em seu "Tratado sobre os Espíritos Elementais", de 1566.
O texto seguinte foi extraído de "A Vida de Benvenuto Cellini", artista italiano do século XVI, escrito por ele próprio "Quando eu tinha cerca de cinco anos de idade, meu pai, estando num pequeno cômodo e que as roupas eram lavadas e onde havia uma boa fogueira feita com lenha de carvalho a arder,olhou dentro das chamas e viu um pequeno animal que se parecia com uma lagartixa e que parecia ter a capacidade de permanecer na parte mais quente das brasas. Percebendo o que era, meu pai chamou-me e à minha irmã e, após nos mostrar a criatura, deu-me um tapa na têmpora. Pus-me a chorar, enquanto ele, afagando-me, afirmou: 'Meu filho querido não te bati em virtude de algo errado que acaso tenhas feito, mas para que te lembres de que viste no fogo uma pequena salamandra'. Após falar desse modo, abraçou-me e deu-me dinheiro."

Não seria sensato pôr em dúvida a história de Cellini, uma vez que ele mesmo foi testemunha ocular e auricular. Além disso, temos também a autoridade de diversos filósofos e eruditos, à frente dos quais Aristóteles e Plínio, que atestam esse poder da salamandra. De acordo com eles, a salamandra não apenas resistia ao fogo, mas era capaz de apagá-lo, e assim que se deparava com as chamas, preparava-se para atacá-las como a um inimigo que estava certa de superar.

Não devemos nos espantar com o fato de que a pele de um animal seja capaz de resistir à ação do fogo. Concluímos que o tecido de que é feita a pele da salamndra ( pois esse animal existe realmente, sendo um tipo de lagarto) não era combustível, e por isso muito útil para embrulhar certos artigos valiosos demais para serem envolvidos em algum material de qualidade inferior. Embora se acreditasse que esses tecidos à prova de fogo eram feitos da pele da salamandra, alguns especialistas descobriram que ele continha fios de amianto, um minério composto de fibras tão finas que podem ser usadas para tecelagem.

O fundamento dessas fábulas parece derivar da capacidade que a salamandra tem de expelir pelos poros uma determinada substância leitosa que produz em grande quantidade quando se irrita, protegendo-a de perigos externos, como a ação do fogo, por exemplo. Sendo um animal hibernante, refugia-se em cavidades de árvores, em estado de torpor, até a chegada da primavera. É possível, portanto, que seja levada junto com a lenha ao fogo, onde desperta a tempo de exercitar as suas faculdades defensivas. O líquido viscoso que expele mostra-se versátil, e todos que dizem tê-la visto nessas circunstâncias admitem que elas correm das chamas o mais depressa possível; Em um caso narrado de uma fuga lenta, a testemunha diz que os pés e outras partes do corpo da salamandra ficaram muito queimados. Dr. Young, em "Pensamentos Noturnos", com mais delicadeza que bom gosto, compara a indiferença de um cético que comtempla um céu estrelado à insensibilidade que uma slamandra demonstra para com o fogo:
"Um astrônomo não devoto é um louco,
(...)
Oh, que gênio é esse que nos dá os céus!
E o coração de salamandra de Lourenço
Ficaria frio em meio a esss chamas sagradas?"

O Livro da Mitologia - História de Deuses e Heróis
Thomas Bulfinch
Edição de 2006

Fontes:

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