sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Glastonbury: A Lendária Avalon

Dedico esse post a todos os “Kalibrothers”:
Allan Anjos
Marcel Oluap
Pedro Szigethy
Rômulo Martins
Tweagle

Hail Kaliburn!!


Elevando-se acima das planícies de Somerset Levels, Glastonbury Tor, em cujo cimo se ergue a torre de uma igreja em ruínas, constitui um marco inigualável de um dos lugares mais misteriosos da Inglaterra.

Esta pequena e animada povoação atrai visitantes de todos os gêneros: românticos fascinados pelas lendas do Rei Arthur, peregrinos a procura da herança da antiga cristandade, místicos em busca do Santo Graal, enquanto astrólogos são seduzidos pelos rumores da existência de um zodíaco na paisagem.

Glastonbury mais não era do que uma ilha rodeada de pântanos quando os primeiros cristãos alí se estabeleceram. A primeira data digna de menção é de cerca de 705 d. C. Quando o Rei Ine fundou aqui um mosteiro que viria a converter-se numa casa beneditina no século X. Escavações arqueológicas trouxeram à luz restos de primitivas construções feitas de vime e de barro, enquanto dos muitos edifícios de pedra construídos ao longo dos séculos apenas resta o contorno. Muitos são, no entanto, os restos da abadia principal, construída nos séculos XIII e XIV e que se caracterizava por um universo místico próprio.

Lady Chapel, a abadia do século XII, ergue-se no local de uma antiga igreja destruída por um incêndio em 1184 d. C. Tratava-se da “Igreja Velha” que, segundo a tradição, foi construída por José de Arimatéia, o homem que carregou o corpo de Jesus para o túmulo. A lenda conta que José de Arimatéia emigrou depois para Glastonbury, onde edificou uma igreja. Outra lenda narra a forma como ele chegou, de barco, até Wearyall Hill e se inclinou sobre o bastão em atitude de oração. O bastão teria então criado raízes e dele teria nascido uma espécie de espinheiro, o Glastonbury Thorn, que ainda hoje floresce na Páscoa e no Natal na abadia, em frente da Igreja de São João.

:.Foi o Rei Arthur enterrado em Glastonbury?
Apesar do frades afirmarem terem encontrado os restos mortais do rei e de sua Guinevere em 1190, existem ainda muitas dúvidas quanto a veracidade da história; descobertas parecem demostrar que o corpo teria sido enterrado perto de Bridgend, no Sul do País de Gales. Depois da última batalha de Arthur, em Camlann, local que nunca foi identificado, o rei moribundo teria sido levado para a misteriosa Ilha de Avalon. Ordenou então a Sir Bedivere que se desfizesse da sua poderosa espada “Excalibur”, mas, quando aquele cavaleiro a arremessou ao lago, uma mão que saiu da água conseguiu agarrá-la. Onde é que esstranho acontecimento teria acontecido? A resposta mais popular identifica-o como o charco de Pomparles Bridge, perto de Glastonbury, drenado posteriormente.

A sepultura, no chão da abadia, foi descoberta depois do segredo do local ter sido revelado por um trovador galês ao Rei Henrique II. O rei informou então ao abade de Glastonbury, e é possível que, quando houve a reconstrução da abadia depois do incêndio em 1184 d. C., os frades se tivessem lançado à procura do túmulo. A cerca de 2 metros de profundidade encontraram uma pedra achatada com uma cruz gravada e a inscrição seguinte:”Hic iacet sepultus inclitus rex Arturius in Insula Avalonia” - “Aqui jas o famoso rei Arthur na Ilha de Avalon”. A cerca de 2,7 metros abaixo da pedra encontrava-se um caixão feito de um cepo escavado contendo as ossadas de um homem de 2,4 metros com o crânio danificado, assim como outras, de tamanho inferior, identificadas como sendo de Guinevere, por um punhado de cabelo loiro que estava junto.

O Dr. Ralegh Radford, arqueólogo britânico, confirmou, em 1962, que se tinha realmente encontrado um caixão, mas que não havia forma de se saber a quem pertencia. O local assinalado no chão da abadia como sendo túmulo do Rei Arthur é de fato o local onde os ossos voltaram a ser enterrados em 1278, num túmulo de mármore preto, a frente do altar-mor. O túmulo original não está assinalado mas fica a 15 metros da porta de Lady Chapel, voltada ao sul.

:.As Lendas do Outeiro
O Rei Arthur está muito ligado a Glastonbury, como revela um conto muito anterior à anunciada descoberta do seu túmulo. Melwas, Rei de Somerset, raptou Guinevere e manteve-a prisioneira em Glastonbury. Arthur, depois de reunir um grupo de homens, foi com eles até a fortaleza do rei para libertá-la que, segundo pensavam, estaria no outeiro. O abade, no entanto, conseguiu que as partes chegassem a acordo antes de começarem a lutar.

Em 1960, durante as escavações, foram encontradas as ruínas de primitivas construções de madeira no cimo dos 150 metros do outeiro, mas não se conseguiu apurar se tratava-se do Palácio Real ou de alguma construção monástica. Quem habitou alí dispunha, no entanto, de boas instalações: entre os achados contam-se fornos para a fundição de metal, ossos de animais- de vacas, carneiros e porcos – e peças de cerâmica, sugerindo que se bebia vinho do Mediterrâneo.


Durante a época medieval, os monges de Glastonbury edificaram no topo uma igreja dedicada a São Miguel Arcanjo, que foi destruída por um terremoto. A torre que se conserva hoje é tudo que resta de uma outra construída posteriormente em substituição da primitiva. Os monges teriam a intenção de cristianizar o outeiro pagão. Segundo a lenda, trata-se da entrada para “Annwn”, um reino secreto do submundo, cujo senhor era “Gwyn ap Nudd”, rei das Fadas. Quando, no século VI, St. Collen visitou “Gwyn” no outeiro, entrou por uma passagem secreta e encontrou-se de repente no meio do plácio. Submetido a tentações, espalhou água benta à sua volta. O palácio desapareceu e St. Collen encontrou-se sozinho na colina.

:.O Vaso Sagrado
No sopé do outeiro existe uma nascente cujo cantar lembra o pulsar do coração. Esta nascente é também chamada Fonte de Sangue, por suas águas serem daquela cor devido ao óxido de ferro, embora a sua mais famosa designação seja a de Vaso Sagrado, uma vez que a tradição dá como certo ser alí que se esconde o Santo Graal. Esta taça lendária, o cálice usado por Jesus na última Ceia, teria sido trazido para a Inglaterra, também por José de Arimatéia. Dizia-se que o Graal tinha enormes poderes e, depois de ter desaparecido, foi procurado em vão por inúmeros cavaleiros da Távola Redonda.

As lendas de Glastonbury poderão ter um fundo de verdade, mas o fato é que elas envolveram a região numa aura de mistério.

No século XII, o historiador Guilherme de Malmesbury escreveu, referindo-se a abadia de Glastonbury, que “ela transmitia, desde a sua fundação, qualquer coisa de sagrado e de celestial que se espalhava por toda a região...” Apesar das opiniãos discordantes e dos estudos comtemporâneos, Glastonbury é ainda, usando as palavras de Malmesbury, um santuário na Terra.

:.A Senhora do Zodíaco
Com a publicação, em 1929, do livro The Glastonbury: Temple of Stars (Glastonbury: o Templo das Estrelas), a escultora inglesa Katharine Maltwood levantou uma onda de controvérsias. Tendo ilustrado a obra High History of the Holy Grail (escrita cerca de 1200 em Glastonbury. Limitadas pelos contornos naturais dos rios, dos caminhos, dos atalhos, das colinas, dos fossos, das fortificações, estas figuras representavam os 12 signos do zodíaco. Katharine Maltwood estava praticamente apta a fazer a ligação entre o simbolismo destes gigantes e a história do Santo Graal e as lendas do Rei Arthur.

:.O Zodíaco de Glastonbury
Velho como as colinas que constituem as suas efígiese os rios que as serpenteiam, o Zodíaco de Glastonbury estende-se por toda a paisagem num diâmetro de 16 km. Os homens completaram este padrão astrológico com caminhos, canis, fortificações. Este Templo das Estrelas constitui a síntese da astrologia, das lendas do Rei Arthur e da Nova Idade da Filosofia. Desvendar seu significado requer uma enorme paciência e imaginação, pois tudo se baseia em associações de nomes locais e lendas, mais do que em fatos históricos.

Arthur é sagitário, Guinevere, virgem, Merlin, o mágico, é capricórnio, e Sir Lancelot, leão. Glastonbury localiza-se em aquário, que é representado por uma Fênix – a Nova Idade nascida das cinzas da antiga. O Vaso Sagrado é o bico do pássaro, o outeiro, a sua cabeça e a abadia, o Castelo do Graal.

:.Uma Perita do Zodíaco
Mary Caine, professora de Arte Inglesa, é a mais conhecedora e interessada nos estudos sobre o zodíaco de Glastonbury. Membro da Ordem de Druidas de Londres, acrescentou uma profusão de pormenores ao já tão rico simbolismo do zodíaco e filmou o próprio do ar. A sua principal contribuição para o conhecimento do zodíaco foi a descoberta de um rosto messiânico na figura de Gêmeos a colina de Dundon Camp, a meio caminho entre as cidades de Glastonbury e de Somerton. Mary Caine contribuiu ainda para o estudo destes desenhos terrestres com a descoberta de um zodíaco semelhante a volta de Kingston-on-Thames, em Surrey, Inglaterra.

:.Mais Curiosidades
§ Os terraços que rodeiam o outeiro assinalam, provavelmente, o tortuoso caminho dos peregrinos, uma espécie de espiral que conduz ao cimo e que data do tempo em que os primeiros cristãos se estabeleceram em Glastonbury. Existe ainda um caminho que atravessa a colina a direita e que liga a outros lugares sagrados da zona.

§ Em tempos idos, Glastonbury não passava de uma ilha, dado que o mar cobria quase toda planície de Somerset Levels, entre as colinas de Mendip e de Quantock. Os vestígios da Idade do Ferro e as aldeias lacustres confirmam-no e levam a concluir que os barcos podiam navegar até Glastonbury.

§ De 1127 a 1825 foi costume fazer-se todos os anos uma feira no sopé do outeiro de Glastonbury em honra a São Miguel. A feira durava seis dias. Da Igreja de S. Miguel resta apenas a torre; na sua fronteira vêem-se, esculpida, algumas figuras curiosas. Uma delas representa o diabo comparando uma alma humana com o resto do mundo e outra um pelicano abrindo o peito.

§ No Chalice Hill, entre o outeiro e a abadia, corre o Vaso Sagrado. A lenda conta como o poço foi construído com grandes pedras pelos druidas e como o cálice da Última Ceia foi posteriormente arremessado as águas cor de sangue.


 





Lugares Misteriosos – Del Prado
Jennifer Westwood
Edição de 1995


:. Vocabulário
(Para aqueles que tiveram dificuldades com as palavras, como eu)
ABADIA = mosteiro dirigido por um abade (superior de ordem religiosa).
CEPO = pedaço de madeira em formato de tábua.
CIMO = topo de uma montanha.
CHARCO = pântano.
EFÍGIE = figura, imagem, retrato.
LACUSTRE = relativo à lago.
OUTEIRO = colina, pequena eminência de terra firme.
SOPÉ = parte mais baixa de uma montanha.


3 comentários:

  1. Que fantástico!!!
    Fiquei muito curioso sobre o vaso sagrado,queria saber mais desse achado.
    Essas lendas misturado com fatos históricos me deixa com muita curiosidade...
    Ah! E agradeço pela homenagem ^^
    Hail KALIBURN

    ResponderExcluir
  2. Muitíssimo obrigado pela homenagem!!!
    Esse é um dos assuntos que me fizeram interessar e aprofundar por história...
    Fantástico!!!

    Hail KALIBURN !!!

    ResponderExcluir