sábado, 29 de janeiro de 2011

Perseu e o Monstro Marinho

Monstro Marinho
Seguindo o seu vôo pelo mundo, Perseu chegou à região dos etíopes, onde Cefeu era o rei. Cassiopéia era a rainha, orgulhosa de sua beleza; ousara comparar-se às ninfas do mar, que, de tão indignadas, enviaram um monstro marinho prodigioso para destroçar a costa. A fim de aplacar a ira das divindades, Cefeu foi orientado pelo oráculo a expor sua filha Andrômeda para ser devorada pelo monstro. Quando olhou para baixo das alturas em que voava, Perseu observou a virgem acorrentada ao rochedo, aguardando a aproximação da serpente. Ela estava tão pálida e imóvel, que se não fossem as lágrimas a correr pelo seu rosto e seu cabelo balançando com o vento, pensaria se tratar de uma estátua de mármore. Em face do que viu, Perseu ficou tão assombrado que quase esqueceu-se de bater as asas(pois estava equipado com os sapatos alados de Mercúrio). Adejando sobre Andrômeda, falou: "Ò virgem, que não mereces essas correntes, mas antes aquelas que unem os amantes, dize-me: qual é o teu nome, como se chama a tua cidade, e por que estás presa desse modo?" A princípio a vergonha não a deixou falar,e, se pudesse, teria escondido seu rosto com as mãos; mas quando Perseu repetiu suas perguntas, temendo que ele a julgasse culpada de algum crime, contou-lhe seu nome e o nome de sua cidade, e falou-lhe do orgulho que a mãe sentia de sua própria beleza. Enquanto ainda falava,um som estranho foi ouvido sobre as águas,eo monstro marinho apareceu, com sua cabeça erguida acima da superfície, cortando as ondas com seu amplo tórax. A virgem estremeceu, e o pai e a mãe, que acabavam de chegar ao local, mostraram-se desesperados, especialmente a mãe. Eles ficaram ao lado da filha, mas nada podiam fazer para protegê-la, além de chorar e abraçar a vítima. Então Perseu exclamou: "Deixemos as lágrimas para depois. Este momento é o único que temos para resgatá-la. Minha posiçãocomo filho de Júpiter e o renome que granjeei ao vencer a górgona faz de mim um pretendente aceitável. Tentarei, entretanto, merecê-la pelos serviços rendidos, se os deuses me ajudarem. Se tua filha for resgatada pelo meu valor, quero que ela seja a minha recompensa". Os pais consentiram (como poderiam não o fazer?), e ainda prometeram dar-lhe um dote real junto com a moça.

Perseu liberta Andrômeda, Vasari
O monstro estava à distância de uma pedra lançada por um hábil atirador, quando, num súbito movimento, o jovem ergueu-se no ar. Com uma águia, que de seu vôo nas alturas avista a serpente se aquecendo ao sol, mergulha sobre ela e prende-a pelo pescoço,evitando que se vire para usar as presas, assim o jovem se atirou sobre o dorso do monstro e atravessou-lhe o ombro com sua espada. Irritado pelo ferimento, o monstro ergueu-se no ar e em seguida mergulhou nas profundezas; então, como o javali cercado por uma matilha de cães que não cessam de latir, virou-se rapidamente de um lado para o outro , enquanto o jovem escapou de seus ataques usando a propulsão de suas asas. Sempre que Perseu encontrava uma brecha entre as escamas do mostro, fazia-lhe um ferimento, perfurandoos seus flancos e a região próxima à cauda.O animal soltava pelas narinas, água misturada com sangue,. Por isso, as asas do herói já estavam molhadas e ele já não podia confiar na sua eficiência. Aterrissando sobre um rochedo que se erguia acima das ondas, e segurando um fragmento de rocha, conseguiu acertar o mostro com um golpe fatal. Os gritos do povo que havia se reunido na praia ecoaram pelas colinas. Os pais, arrebatados de alegria, abraçaramo futuro genro, chamando-o de seu libertador e salvador de sua casa, e a virgem, que foi tanto a causa como a recompensa do conflito, desceu do rochedo.

Cassiopéia, cuja beleza já foi por nós destacada, era etíope, e portanto negra, pelo menos é o que Milton parece sugerir em seu "Penseroso", no qual ele fala da melancolia:
"deusa, sábia e sagrada,
Cujo o rosto santificado é brilhante demais
Para ser percebido pela vista humana,
E, portanto, apara a nossa visão mais frágil,
Coberta de negro, a cor da Sabedoria serena.
Negra, mas de tal modo estimada
Como conviria à irmã do príncipe Mêmnon,
Ou àquela estrelada rainha etíope que tentou 
Comparar sua beleza com as das ninfas do mar,
Ofendendo-as assim."

Cassiopéia é chamada de "estelar rainha etíope" porque após a sua morte foi colocada entre as estrelas, formando a constelação que leva seu nome. Embora tenha recebido essa honra, as ninfas do mar, suas antigas inimigas, conseguiram que ela fosse situada naquela porção do céu que fica sobre os pólos, onde, todas as noites, tem de ficar cabisbaixa, recebendo uma lição de humildade.

O Livro da Mitologia - História de Deuses e Heróis
Thomas Bulfinch
Edição de 2006

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