domingo, 15 de maio de 2011

O Diabo e a Música

Escrito por Raphael Grizotte

Quero relatar aqui um detalhe de pouca importância mas curioso o tema da música em diferentes histórias macabras.

É fácil de imaginar por que a música sendo uma forma de expressão de divulgação íntima das intenções ou de sentimentos, sirva logicamente para qualquer meio, mas não quero aqui me referir a um gênero ou estilo musical, mas sim a comodidade que apresenta a música como coadjuvante em histórias, nada de fundo musical, somente uma parte importante, nem trilha sonora mas um outro personagem inesperado que com o diabo ou o inferno que ele possa representar, nos dá uma diversidade para as sete notas. Eu não diria se tratar de uma ferramenta como muitas que o 'mal' possa usar para conseguir o que quer, e sim uma necessidade existencial da música em todas as suas esferas.

Todas as crenças das mais distintas citam o inferno como um lugar de punição, de sofrimento que se estende ao lamento eterno; não poderia deixar de imaginar um som odioso (...Como um ranger de dentes...) que sita a bíblia. Como referência, uma viagem feita por dois poetas que desbravam os mundos inferiores (Dante Alighieri ) mostrando os nove círculos do inferno, todos os sofrimentos e os sons existentes. Como já está escrito; convém deixar toda a suspeita, todo o ignóbil sentir, que aqui seja proscrito,...e ao chegar nas portas do inferno, Dante categórico diz "Mestre, que ouço agora?"

Sem dúvida não era música o que Dante ouvira independente dos ouvidos acostumados aos mais diversos dos ruídos. Um som desses nunca poderia equiparar-se ao barulho qualquer de uma 'demoníaca festa' barulhenta que nunca acaba, acho que esse detalhe é compreensivo, mas será que num lugar assim pode-se ouvir música? Há de ser loucura, mas aqueles demônios sempre ocupados tem que aturar o hobby favorito do chefe, uma música para relaxar, por que não?

Fausto que não queria ouvir os cantos de natal, cantados pelas crianças, de repente passara a se divertir com seu novo amigo muito estranho (MEFISTÓFELES) e cheio de truques que encantava por seus atos e não deixava de tocar muito bem para animar as festas onde ele poderia dançar com sua amada e vender a alma ao diabo por motivos de amor. Fausto de Goethe é pouco musical, mas em contraponto no mesmo tema de Thomas Mann descreve o 'dr Fausto' entediado em sua vida amorosa e sonórica, assim passa a compor muito mais com a oferta de negócio feita por Mefistófeles. Como quadro de Chagall, onde um violino é sempre destacado colocando em questão a música e por outras colocando em suas pinturas um bode tocando o violino ligado diretamente as tradições Russas com suas lendas de músico diabólico.

Tenho também histórias que só aumentavam a fama de Paganini (1782-1840), um grande violinista que também vendera sua alma para o diabo, ou somente tinha uma pacto com ele que lhe respondia em suas músicas com seu talento fora do comum. Segundo muitos biógrafos, Paganini sentia verdadeira obsessão para se casar e formar uma família. Só que não o pôde com a sina dos condenados a pagar sua dívida com satan. Paganini se tornou mais famoso e popular com seu jeito obscuro e com as lendas criadas por seu dom fora do comum, que ele mesmo brincava dizendo ser o aprendiz do diabo.

Ainda sobre as histórias que rondam Paganini, um do exemplos mais clássicos é a música “Concerto para violino n.º 2 em Si menor Op. 7” - “A campainha”, que simboliza o som de uma campainha respondendo as notas feitas pelo violino como se fosse o próprio diabo a tocá-la; tema muito comum em sua época como uma forma de comunicação com o outro mundo. Paganini teve sim um filho e viveu de forma diferenciada dos homens comuns da Itália do século XVIII.

Estes contos referentes ao grande músico Niccolo Paganini, que sempre disputava somente contra seu único rival, o diabo, deve ter servido de inspiração para algumas e dúvida para outras muitíssimas histórias com o diabo querendo encenar ou disputar um solo musical.

Outro que também o coloca em sua história musical, foi Igor Stravinsky em 'A História do Soldado', baseada em temas folclóricos russos onde o diabo quer aprender a tocar em troca de um livro com um soldado muito apressado que era enganado diversas vezes por ele. Quero deduzir que o diabo além de enganar as pessoas, ainda não deixa de retirar delas algo mais que a paz e a alma. Ele teima em ter esse dom da música ao seu lado, já que na história do Soldado, o pobre acaba acompanhando e tocando o violino.

Como vivemos num mundo onde carpideiras trabalham para poder animar certos velórios, não podemos deixar de imaginar o trabalho da música para seduzir o homem, ou até mesmo um gênero musical perdido! O violino funerário obra de não-ficção de um livro chamado “An incomplete history of the art of the funerary violin” (Uma história incompleta da arte do violino funerário), verdade ou não, fato é que ainda na Suécia exista a tradição folclórica de dançar num evento muito legal. As principais atuações de “Os Azeitoneiros” aconteceram no âmbito da Halsinge Hambon, uma das competições de dança mais antigas na Suécia, baseada na lenda do encantamento de jovens ao som de um violino tocado pelo Diabo, disfarçado de homem.

Na narrativa mais comum, o diabo se apresenta para mostrar seus dotes musicais em troca de riqueza de amores impossíveis ou com seu maior prêmio, o de um violino de ouro se o músico aceitar a disputa proposta pelo diabo. Ele teria um desafio grandioso que teve sua versão no desenho animado “Futurama”. E no jogo (game Guitar Hero) na música 'The Devil Went Down to Georgia'... Mostrando assim a contemporaneidade do tema. Acho que desde que Orfeu levara sua lira ao mundo inferior, as criaturas demoníacas se acalmaram um dado momento para ele poder se destacar.

"Ó divindades do mundo inferior, para o qual todos nós que vivemos teremos que vir, ouve minhas palavras, pois são verdadeiras. Não venho para espionar os segredos do Tártaro, nem para tentar experimentar minha força contra o cão de três cabeças que guarda a entrada. Venho à procura de minha esposa, a cuja mocidade o dente de uma venenosa víbora pôs fim prematuro. O Amor aqui me trouxe, o Amor, um deus todo-poderoso entre nós, que mora na Terra e, se as velhas tradições dizem a verdade, também mora aqui. Imploro-vos: une de novo os fios da vida de Eurídice!..."

Ele sem dúvidas mostrou seus dotes depois de calar repentinamente aquele inferno, introduzindo a música que acalma as 'feras'. Esta opinião era deveras comprovada. Quem sabe assim nascera o tema por Orfeu em busca de sua amada Eurídice.

2 comentários:

  1. Gostaria de agradecer a participação do Raphael no blog.
    Seja sempre bem vindo!

    ResponderExcluir
  2. Po achei maneiro mandei convite pra vc no msn pra gente troka umas ideiaas joao13r_99@hotmail.com e o meu e-mail ^^ espero q vc adicione

    ResponderExcluir