quinta-feira, 5 de maio de 2011

Afrodite (Mês de Abril)

No princípio dos tempos, um grande estrondo despertou o mundo que apenas começou a formar-se. Era o incessante bater das gigantescas ondas que saíam da abismal profundidade do imenso mar Oceano, se agitavam e avançavam implacáveis até chocar-se contra as rochas dos escarpados, donde se batiam e troavam. A Terra retumbava na obscuridade da noite, pois os astros do Céu não a iluminavam, e o reino das sombras se estendia por todo o Universo para enche-la de desolação.

Mas, subitamente, dentre as revoltas águas do Mare Nostrum surgiu uma montanha de espuma prateada e brilhante, tão suave e etérea como os copos de neve, como as nuvens de algodão...

A rosa dos ventos abriu suas pétalas e nesse momento, desde os quatro pontos cardeais soprou uma brisa cortante que dispersou a borbulhante espuma, a arrastou tal qual as insignificantes lanugens, deixando descoberto a formosa figura da deusa Afrodite, a Vênus do mar, com seu esbelto corpo desnudo e resplandecente, e reluzente como a alva do primeiro dia do mundo.
                                                            
Nascida da espuma das ondas, nenhuma criatura, nem divina nem mortal, igualará em beleza a deusa Vênus... A luz e a claridade abrem caminho, cessa o ruído estrondoso, a paz e o silêncio se estendem pela Terra...O mito da formosura do amor e da sedução inicia seu percurso.

A deusa Afrodite encarna a beleza sensitiva e espiritual do amor, pois sua origem provém dos elementos naturais: a água do profundo mar oceano, o ar dos ventos de todas latitudes e o invisível fogo que ilumina a grandiosa claridade do primeiro dia do mundo.

De origem asiática, seu culto foi introduzido na Grécia por marinheiros e mercadores. Primitivamente, Vênus era divindade do instinto natural de fecundação e geração. Personificava o elemento úmido, princípio de fertilidade da natureza; sua ação abrangia os deuses, os homens e todas as criaturas do mundo vegetal e animal. Mais tarde, passou a ser considerada deusa do amor. Inicialmente, protegia apenas as formas mais nobres desse sentimento. Com a evolução do mito, acabou personificando o amor em seus inúmeros aspectos.

Zéfiro, o vento que soprava desde o Oeste e que dispersava pétalas de rosas e flores por todo o Universo, o filho da Aurora matinal que sai a cada manhã para anunciar um novo dia, translada rapidamente a formosa Vênus até a ilha de Chipre, donde a recolhem as donzelas que personificavam as quatro estações e a transportam para a morada dos deuses, o Olimpo.

Não obstante sua formosura, a deusa Vênus tomou por esposo Vulcano, o ferreiro Hefesto, descrito pelos narradores do mito como um deus de aspecto pouco agraciado, inclusive tinha algum defeito físico que afetava ainda mais sua figura.

Porém, Vulcano era o deus do fogo e em sua forja – escavada nas entranhas do monte Etna, acesa e ativa, ardia dia e noite – não só forjava os carros, os escudos, as couraças, flechas e espadas dos heróis legendários, o cetro de Zeus, o tridente de Netuno e a diadema de ouro e rubis de Ariadne, como também as mais vistosas jóias, engastando-lhes as pedras mais valiosas, para que as deusas as usassem quando assistiam as celebrações e banquetes. Também foi ali onde se fundiram os metais preciosos utilizados para conseguir a secreta liga com que se fabricou o sólido cofre preparado para encerrar em seu interior todos os males... porém também a esperança.

:.Jardim de Adônis
As jóias mais vistosas que criava Vulcano em sua forja as presenteava sua esposa, a deusa Vênus, de maneira que sua formosura sempre ressaltava sobre todas demais deidades.

A divinal Vênus não recusava nunca presente algum de seu esposo, mas passava os longos e cálidos dias de verão na companhia do jovem efebo Adônis – filho da relação incestuosa de uma donzela chamada Mirra com seu próprio pai -, de quem estava apaixonada.

Todos os anos, no Solstício da Primavera quando a terra se enchia de luz e vida, a deusa Vênus, com seu corpo apenas coberto por um vestido de gaza e seda transparente, saía correndo ao campo e sentava-se no alto de uma colina perto do mar para esperar o seu amado Adônis, que vinha de passar o inverno no sombrio mundo subterrâneo do reino de Hades, porém na deleitosa companhia da jovem Perséfone, esposa do deus dos infernos.

O mito narra que Marte, deus da guerra, era amante de Vênus e sentia ciúmes de Adônis, pelo que, após segui-lo quando caminhava pelo bosque, soltou contra ele um feroz javali que esquartejou com suas presas o rapaz.

Desconsolada, a formosa Vênus chorou com grande sentimento a morte de Adônis e ao caírem suas lágrimas na terra e misturar-se com o sangue de seu amado, a Terra se abriu e brotou uma flor branca que brilhava como uma estrela*. A deusa chamou “anêmona dos bosques” a essa flor tão delicada e, desde então, até os atuais tempos, quando chega a primavera, a colina do monte Líbano, no local onde a formosa Vênus esperava seu amado, se cobre com um espesso manto de ervas silvestres e de flores cheirosas: é o Jardim de Adônis, onde cresce a árvore da mirra.
 *Em outra versão, Vênus recolheu as gotas do sangue de Adônis e das próprias fez nascer a anêmona.

:.A Rede de Vulcano
Na ilha de Chipre sempre esteve Vênus acompanhada pelo Desejo e o Amor, de forma que, tanto os heróis imortais quanto os deuses, sentiam-se atraídos pelos encantos da formosa e sedutora deusa. Mas, entre os deuses, quem continuamente se encontrava com Vênus era Marte, o impetuoso deus Ares da guerra.

No leito de seu palácio na Tracia, Marte se encontrava com Vênus sempre que lhes houvessem ocasião, pelo que a infidelidade da deusa não tardou a ser descoberta pelo esposo, o ferreiro Vulcano, quem, não podendo suportar tamanha ofensa e semelhante desonra, traçou um plano para surpreender os amantes.

Narra Ovídio, na sua obra “Metamorfosis”, que foi o Sol quem descobriu os amores de Vênus e Marte, e que em seguida informou a Vulcano, o qual, ao conhecer a infidelidade de sua esposa e a traição do deus Marte, sentiu-se t
sentiu-se tão ultrajado e doido que idealizou um ardil, uma espécie de rede presa com correntes, para agarrar e castigar os dois adúlteros.
Assim pois, Vulcano começou por fabricar um artístico dossel para o leito de sua esposa, sustentado por quatro pilares de ouro cinzelado, coberto e adornado com cortinado de veludo. À Vênus lhe agradou a obra de Vulcano e, como prova disto, deitou com seu esposo e lhe encheu de felicidade durante toda uma noite de amor, tanto que o deus do fogo quase desiste de seguir adiante com seu propósito.
Mas passados os primeiros instantes de arroubamento, Vulcano prometeu a si mesmo pôr em prática a segunda parte do plano que tinha traçado e, sem mais demora, fabricou uma rede irrompível e sólida, de malha de bronze, e a fixou sobre os extremos dos dosséis do leito de sua esposa e a cobriu com cortinados de veludo. Tudo estava preparado e pronto: o peso de mais de um corpo sobre a cama faria com que a rede desprendesse e caísse.
Assim pois, certo dia, Vulcano comunicou à formosa Vênus que ficaria ausente de sua forja durante várias jornadas, já que tinha que realizar com urgência uma viagem  à ilha de Lemnos. Tal como Vulcano supunha, sua astuta esposa fingiu um pretesto para não acompanhá-lo e logo que o deus do fogo se ausentou, Vênus enviou um recado ao seu amante, pedindo que viesse a reunir-se com ela.
Feito namorados recentes, Marte e Vênus estavam desnudos no leito da deusa da beleza; estavam tão abstraídos com seus jogos amorosos que não repararam na armadilha que tinha lhes armado Vulcano, até que, de imprevisto, uma pesada rede metálica caiu em cima deles e os prendeu entre suas malhas, tão sólidas e robustas que nem o próprio e poderoso deus da guerra pode quebrá-la.
Então, apareceu diante deles Vulcano que, no instante, mandou um mensageiro até o monte do Olimpo para que todos os deuses viessem e comprovassem não só a infidelidade de Vênus mas, também, o impudor e voluptuosidade do deus Marte.
:.A Súplica dos Amantes
Marte, o deus da guerra, estava dotado de grande poder e fortaleza mas, por mais que tentasse, não foi capaz de partir, nem sequer fazer mossa ou dobrar o metal de bronze que Vulcano tinha empregado para fabricar aquela pesada rede, entre cujas malhas permanecia junto com sua amante, enredado e imobilizado.

Vênus e Marte não cessavam de suplicar a Vulcano que os soltassem. Mas, na presença de Zeus, o Deus do Olimpo, que tinha acudido prontamente a chamada do ferreiro dos deuses e que contemplava a cena em companhia de Netuno, Mercúrio, Baco e outras deidades, o deus do fogo lhes fez jurar que antes tinham ambos que devolver-lhe a honra; e sua esposa, em particular, devia lhe restituir-lhe todos os presentes que tinha ganho durante o tempo em que viveram juntos, assim como, o montante do dote que aportou ao matrimônio no dia da boda.

Netuno, deus das águas, se dirigiu aos deuses presentes na alcova de Vênus e, após olhar sem dissimular o tentador corpo desnudo da deusa da beleza, falou com voz enérgica, argumentando que devia ser Marte quem devia pagar o dinheiro do dote que reclamava Vulcano. É evidente, assinalou Netuno, que é o deus da guerra quem está preso nesta rede e quem tem coabitado com Vê preso nesta rede e quem tem coabitado com V devia pagar o dinheiro do dote que reclamava Vulcano. juntos, assim como, o montannus e degustado o mel do formoso corpo da deusa durante muitas noites, mais do que podia imaginar.

Enquanto falava, Netuno batia com seu tridente na rede metálica, fabricada por Vulcano, que mantinha presos os dois incautos amantes, Vênus e Marte.

Mas, dado que Vulcano estava muito apaixonado por sua bela esposa, o episódio acaba com o perdão, a paz e de novo o mútuo entendimento de ambos, a deusa do amor e o deus do fogo.

Marte, o deus da guerra, uma vez libertado da rede de bronze que lhe aprisionava, partiu para seu palácio e não voltou a ver a deusa Vênus.

Dessa relação nasceu: Deimos, Fobos, Cupido e Harmonia.

:.O Cinturão Mágico de Vênus
Porém, as promessas de fidelidade de Vênus duraram pouco e foram tão efêmeras como a espuma do mar que, na origem dos tempos a engendraram. De forma que, de pronto, outros deuses e heróis, mortais e imortais, além de reis e soberanos que governavam extensas terras, se deitaram com a deusa do amor e da beleza.

Havia uma razão que explicava porque todos que miravam de perto a deusa sentiam-se cativados pelos seus encantos e a desejavam. O mito narra que essa atração surgia porque a deusa levava cingido em sua cintura um cordão mágico dourado que exercia um feitiço sedutor a sua volta, despertava as paixões dos deuses e dos mortais e era desejada pelos mais belos efebos.

O cinturão dourado de Vênus realçava seus encantos físicos e era um dos principais atributos da deusa do amor e da beleza.

Entre os pretendentes que alcançaram os favores da deusa Vênus, mesmo só por uma noite, há deuses e mortais; Mercúrio, com quem teve Hermafrodito; Baco, que lhe fez mãe de Priapo...

Menção especial merece o célebre escultor Pigmalión, que tinha fama de recusar toda relação íntima ou afetiva, fossem com mulheres mortais ou deusas. Mas tendo realizado uma estátua feminina com as formas tão perfeitas, que só faltava mover-se, respirar e sentir, se apaixonou por ela, chamando-a Galatea, e pediu a Vênus que desse vida a tão magnífica figura. Então, Vênus se transformou em Galatea, e imediatamente a estátua tomou vida e se converteu em uma mulher tão formosa que despertou a libido de Pigmalión que se deitou com a deusa sem sabê-lo, pois pensava que o fazia com a estátua vivente.

Também o filho do Sol, o jovem Faetão, de quem se diz que não pôde controlar seus cavalos desloucados quando conduzia seu carro de fogo, pelo que esteve a ponto de incendiar a terra, se apaixonou pela formosa Vênus e gozou de seus encantos. No relato do mito de Faetão se descreve como o jovem foi fulminado pelo raio de Zeus, já que o deus quis evitar, assim, que a terra ardesse e ficasse reduzida a cinzas. Não obstante, parece que, na verdade, Zeus infligiu o maior castigo a Faetão para vingar-se de seu pai Helios, o Sol, cuja indiscrição o converteu em delator ao informar Vulcano dos devaneios amorosos da sua esposa Vênus.

:. O Príncipe Anquises
Os hinos homéricos recolhem o episódio mitológico doas amores de Vênus com o jovem mortal Anquises, príncipe de Tróia.

Encontrando-se o jovem Anquises no monte Ida, viu aproximar-se uma formosa moça. Vinha vestida com as ricas roupagens de uma rainha, e adornada de jóias que reluziam mais do que o ouro e a prata. Todo o seu corpo exalava um perfume fino e embriagador...

"Saúdo a recém-chegada". Falou, e disse que estava indo em direção a suas terras do Helesponto e Frigia, de onde era princesa.

Anquises ficou cativado pela formosura da jovem e quando escutou sua voz, esta lhe pareceu tão clara e suave como as águas dos arroios dos mananciais que nasciam no cimo das montanhas e escorriam até o vale.

Anquises convidou a jovem a entrar em sua cabana e ao contemplá-la desnuda se cativou ainda mais por ela. Os dois amantes rolaram durante a noite toda num leito de peles e quando, na manhã seguinte, Anquises acordou, a formosa jovem lhe revelou que ela era  na verdade a deusa Vênus e que devia manter em segredo que tinha se deitado com ela.

Passou o tempo e Anquises, por ocasião de um ágape entre amigos, celebrado no seu palácio, alardeou que tinha se deitado com a deusa Vênus. E no mesmo instante, Zeus enviou seu fulminante raio contra o indiscreto jovem, mas Vênus o desviou para que não alcançasse de cheio Anquises, porém lhe passou tão perto que ficou maltratado e debilitado para sempre.

Dessa noite de amor entre Anquises e Vênus nasceu o grande herói Eneas, cujas ações e façanhas narrara o grande poeta latino Virgílio, na sua obra Eneida.

Finalmente, se conta que, após soltar uma tormenta para ocultar-lhe, os deuses transportaram o herói Enéas ao céu e o sentaram no trono dos imortais.

:.Vênus - Mármore dos Artistas
Vênus de Milo
As representações e a iconografia da deusa Vênus, Afrodite grega, são muito ricas e variadas. Ao longo dos tempos numerosos artistas, além dos antigos gregos e romanos, a têm tomado como modelo para a realização de seus trabalhos. E tem sido, a deusa do amor, uma fonte inesgotável de inspiração para seus quadros, esculturas e outras obras estéticas.

Vênus inspirará paixões na arte, na literatura, na música, no teatro... Inclusive os imperadores romanos invocavam o nome da deusa da beleza para incutir valor a seus soldados antes da batalha: "Venus Victrix", Vênus Vitoriosa.

Na antiguidade clássica, Vênus foi representada por Fídias numa escultura onde aparecia vestida. Enquanto que os prestigiosos escultores Praxíteles e Escopas, que introduziram o padrão grego da proporção e perfeição nas formas, faz mais de dois milênios, consideraram a deusa Afrodite o modelo de beleza feminina e a representavam saindo do mar com um dos braços e o peito esquerdo desnudos, apenas coberta com um véu transparente.

Entre as estátuas de Vênus feitas em mármore por artistas da antiguidade, destaca-se a Vênus de Médicis, a Vênus do Capitólio, a Vênus de Cnido...

Porém, sem dúvida, a Vênus de Milo, que se encontra no Museu do Louvre, é uma das estátuas da deusa do amor mais conhecidas e divulgadas. Data do século segundo, antes da nossa era, e está lavrada em mármore.

A estátua tal qual está hoje, foi descoberta em princípios do século dezenove por um camponês grego quando trabalhava em suas terras, na ilha de Melos. É uma peça talhada helenística, lavrada com maestria, mimo e cuidadosos detalhes.

A figura mede dois metros de altura e, originalmente, um dos braços repousava sobre um pilar de mármore que tinha gravado na base o nome de Alexandros de Antioquía, realizador de tão criativo conjunto escultural.

Neste mesmo lugar, Melos, se encontrou também uma mão que levava uma maçã e que, segundo parece, pertenceu a estátua de Vênus. Daí que se pense que o artista chamara Vênus da Maçã à tão singular escultura, pois "melos", em grego, significa maçã, atributo da Vênus da fertilidade dos campos, junto com as rosas, a romã, as flores e os bagos das murtas ou mirtos.

:.O Juízo de Paris
A maçã, enquanto símbolo mitológico relacionado com a beleza, a tentação, a paixão e o desejo, aparece também no relato do denominado "Juízo de Paris", um dos episódios mitológicos mais célebres e populares, que mostra como a Discórdia, mediante um simples estratagema, consegue chamar a atenção dos convidados de uma faustosa boda.

Tudo isto, por exemplo, pode-se observar no célebre lenço de Rubens, que ilustra o mito da maçã de ouro que a Discórdia, por vingança, lançou no meio da grande sala do palácio onde estava se celebrando o banquete da boda da formosa ninfa do mar, a nereida Tetis, com o rei Peleo. Todas as deidades haviam assistido a esta boda, exceto a deusa Éride, a Discórdia, pois os anfitriões se esqueceram de convidá-la.

A maçã levava escrita a frase "Para a mais formosa.", pelo que os presentes elegeram Paris como juiz, filho do rei de Tróia, para que decidisse quem era a mais bela das três deusas que ali se encontravam: Hera, Atena ou Afrodite.

Hera ofereceu ao jovem Paris todos os reinos da Terra, se fosse eleita; Atena lhe prometeu sair sempre vitorioso e sem ferida alguma de todas as guerras contra seus inimigos; enquanto que Afrodite lhe assegurou que conseguiria namorar a mais formosa das jovens mortais, a bela Helena de Tróia.

Paris, que estava cativo da formosura de Helena, se decidiu por Afrodite e, então, Hera e Atena se indispuseram com ele para sempre. A partir daí, ambas as deusas ficariam do lado dos gregos que lutavam contra os troianos, enquanto que Afrodite ajudaria os troianos. Segundo o mito clássico, este fato, unido ao episódio do rapto de Helena, originaria a guerra de Tróia.


Mitologia - Deuses e Heróis
F&G Editores
2002

Dicionário de Mitologia Greco-Romana
Abril Cultural
1973

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